terça-feira, 21 de agosto de 2007

SÓ O LÍ ! * de Marantbarfer

Ah!
Ah! De novo, digo eu... Era ele!
Está claro que era. Agora me lembro... Era ele mesmo, o Braga!
Você sabe, o Braga... Melhor dizendo, o Rubem!
Isso mesmo, quem diria ? O Rubem Braga.
Aquele que era elegante, fino, de bom trato, com ar de maestro
Dizem que era de família classuda lá daqueles lados do Brasil, família requintada mesmo, dessas que nunca passam por dificuldades.

A mãe tocava piano e servia chás nos varandados da chácara.
Chopin, Bach, Tcheikowsk e polcas, valsas,chorinhos...
O pai lia Vitor Hugo, D.H. Lawrence, Balzac, Euclides da Cunha, de quem era admirador profundo e até um tal Graciliano que se iniciava. Usava broche no suspensório, fumava charutos vindos direto da Bahia e as pingas de seu próprio alambique, adocicavam as leituras.

O Rubem, contador de histórias, erudito, de raro talento o sujeito, tinha seu séquito inabalável de amantes do bom escrito e era respeitado e querido por qualquer um que o conhecesse.
O Rubem, sujeito traquino, ladino mesmo, de olhar oblíquo sobre os fatos, astuto, primoroso, déspota ululante ao defender o certo, esse Rubem.
O Rubem, que chamou o próprio pai de pústula, pútrido, quando
o velho negou-se a defender uma causa que lhe era interessante.
Depois, chorando tomou-lhe à benção, beijou-lhe o rosto e pediu perdão. O pai estava certo, a causa era uma furada.
Príncipe e poeta, esse Rubem. Um príncipe que só queria ser poeta, escritor de histórias. É, era ele mesmo, que com requinte lia nos jornais de Paris coisas do Caribe.
Não é do meu tempo, é verdade. Nunca o ví.
Desconheço o timbre de sua voz, a palidez de sua tez, se tinha brilho no olhar, luz na aura, ouro no dente... Mas ele anda em minha vida. Em nossas vidas. Como João Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e outros que amamos.
Ele está por aí, nos cafés da Lapa, nos Arcos dos Teles, no Paço, no Tabuleiro da Baiana. Com Lima Barreto, Bebú e outros à espreita.
Mas deixo claro, insisto mesmo, não o conheço, nunca o ví.
Que não haja dúvidas, não é do meu tempo esse Rubem!
Só o lí...

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