sábado, 25 de agosto de 2007

VIVENDO OUTRA VEZ * de Marantbarfer

Ainda estou meio zonzo. Ainda soa dentro em mim a pancada do imenso martelo contra o grande prato metálico chinês.
Ainda está tudo estranho, agora que cato cacos e corruptelas mundanas que sobraram da grande explosão.
Aqui agachado, rasgando a carne para retirar estilhaços, retiro também a bola vermelha que me cobria o nariz, desfaço a maquiagem exagerada em volta dos olhos e da boca e carinhosamente guardo o imenso e belo colarinho multicolorido. Quem será aquela mulher que me denunciou a realidade crua, com gosto de esterco, violenta qual chute entre as pernas e tão definitiva como a morte. E ela parecia tão alegre, de onde terá saído com aquela admiração multiplicada, gritando o óbvio que eu não queria ouvir e atirando meus sonhos ao colo do vendaval mais constante. Não importa, ela só delatou a vida e me fez ver que o tempo já ia além da esquina e eu jamais poderia alcança-lo. Nada perdi, pois só se perde o que se tinha e eu nada tive, nada me pertenceu.
Nem o perfume dela. Nem o brilho de seus olhos. O timbre de sua voz ou o sonho de seu hálito emanando sobre mim.
Será que tive o direito a tal ridículo. Alguém compreenderia tal surto àquela hora.
Medo... Cada qual ocultando seu segredo em sua boca cega, em seus olhos mudos, com seus atos surdos.Agora só resta a funeral do flamboyant. Eu vi, quando ficaram lá inventando vidas eloqüentes e perguntando quem tem medo, o que não ouço desde Elizabeth. Hoje não me contenho mais e sou obrigado a disparar arpões. Medo... Cada um guarda mais o seu segredo ! Me calarei para sempre e voltarei ao mundo cinza que me resta, não mais tocarei no assunto que ninguém conhece e varrerei do meu coração aquela imagem eloqüente, pois na verdade,ela é de outro.
Só por instantes a vi em meus braços. Por algumas noites a insônia dolente e amável me acalentou de forma tão juvenil.
E aquela emoção dos moços, ansiedade adolescente e vigor já esquecido voltaram em minha mente e meu sangue fulgurante ferveu por quase explodir veias, rasgar vasos, e fez meu coração viver outra vez!

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