domingo, 30 de março de 2008

QUEM SABE? * por Marferart


Sentí o lenço roçar em meu rosto
Levemente, deixar um perfume bambo e suave
Sentí o afago do desafio tíbio, tênue, frouxo
o desalinho da arma branca, punhal letal, que arde

Me de safias pra ação, atitude, pro golpe final
Desafias minha emoção, meu ego rude, pra te fazer mal
Queres que eu mostre minha potência emocionada?
Queres saber dessa potência já desregrada?

Quem sabe então a noite nos trate bem
e mostre a tal felicidade?

Quem sabe a noite pense tao bem,
que ser feliz, nos seja só ambiguidades?

Quem sabe?

sexta-feira, 28 de março de 2008

EU, AVE... DAS AQUÁTICAS! por Marferart








EU AVE... DAS AQUÁTICAS

Caminho pro oceano errante
Só pra ver a onda levar
Os arranha-céus gigantes
E tantos tolos versos de bar

Lavo as mãos no rio
E o pranto na calota polar
Mendigo gotículas no assoreamento vazio
Sopro o pólen das flores no mar

Bebo do orvalho no campo vadio
Bebo do sangue no peito do abandono
Bebo o molhado em retinas no cio
E o paladar no suor do que fomos

Caem meus céus em tempestades que choram luz
Uma chuva que é lava, que lava e refaz-me jovem
Mas que sara e sobra em caras que transmudam de mil urubus
Um legado de fibras cromossômicas, nas águas que se movem

Economizar pro futuro, pro próximo, pra vida
Eu, ave, nessas águas que rasgam, que curam e fazem feridas
Eu pássaro, no veio torto da terra já tão combalida, envelhecida...
Rasgando o último canion da América que chamaram de Latina

BOCA * por |Marferart












(essa obra de arte pertence a Sol Pereira)




BOCA

Boca que de tão bela morde

Boca que por morder beija

Boca que por beijar diz

Boca que por dizer bafia

Boca que por bafiar perfuma

Boca que por perfumar seduz

Boca que por seduzir conquista

Boca que por conquistar chupa

Boca que por chupar lambe

Boca que por lamber goza

Boca que por gozar apaixona

Boca que por apaixonar manda

Boca que por mandar xinga

Boca que por xingar excita

Boca que por excitar range

Boca que por ranger ama

Boca que por amar vibra

Boca que por vibrar esgota

Boca que por esgotar dorme

Boca que por dormir geme

E de tão bela, ao gemer morde, ao morder beija

Ao beijar diz, ao dizer bafia,

Ao bafiar perfuma, ao perfumar seduz,

Ao seduzir conquista, ao conquistar chupa,

Ao chupar lambe, ao lamber goza,

Ao gozar apaixona, ao apaixonar manda

Ao mandar xinga, ao xingar excita,

Ao excitar range, ao ranger ama,

Ao amar vibra, ao vibrar esgota,

Ao esgotar dorme, ao dormir geme,

Ao gemer...



(...então liguei o radio e ouvi: ..."essa boca, muito louca,
eu quero beijar"... fui tentado a continuar. Mas desliguei.)

quarta-feira, 26 de março de 2008

QUANTOS? * por Marferart












QUANTOS?

Quando no fim de tudo, exausta
Quando cansada, finda, exata
Quando se der por satisfeita
Quando mais nada restar, farta
E então dizeres: beijos...

Quando todo o raciocínio se concluir
Quando a mente ja não instruir
Quando todo o pensamento se diluir
Quando a emoção já não influir
E findares dizendo: Beijos...

Quando em fim nada mais fluir
Quando o verso se calar, fugir
Quando a rima não mais servir
E toda a tela se fechar, ruir...
E então dizeres, no inevitável fim, beijos...

O que posso realmente esperar?
A quantos exatamente te referes?
Com o que posso contar?
Qual o findo ensejo reles?

Pra findar:"Beijos prá você"! (milhões é claro)

ÁGUA * por Marferart









ÁGUA

Água que bebi, água pra nascer, oxidada, quimera amniótica, água de tecer o ser
Água do milagre, da utópica bolsa mágica, da conserva no útero à arder
Água pra brotar, alimentar e ferver a existência, amar, fartar ao aquecer
Água da força, do sopro pra mover, do prazer, água para arremeter ao viver

Água de banhar, lavar, ceifar o mal, de refazer a luz, pra repecar, revigorar
Água pra limpar a alma, pra alimentar, revitalizar, pra benção, mea-culpa
Água para clarear, tratar, pra ensinar o caminho da barriga mater, de tornar ao lar
Água pra lavar as mãos, pro lava-pés, contrição litúrgica, perdão, confortar

Água que verti, retive, na virilha, no joelho, água ardente, de cuspir, de rasgar, de irrigar
Água de conduzir energia trôpega, de emergir, fundir, de beber no bar, de nadar, se encharcar, embriagar
Água doce, H2°, mineral, salobre, de bica, mijo, suja, vala, valão, pra emporcalhar, lambuzar
Água de declive, cry a river, calhas, caixas, de correr, colher, molhar, regar, alagar

Água que chorei, pranteei, que rasguei, que sangrei, da carne, da boca, de fazer amor
Água que sorvi, que lambi, nos sulcos, hímens, mucosas complacentes, no odor
Água de correr, descer, banhar a terra, chover, nas estações, limpa e sem cor
Água de ferver a máquina, de mover o mundo, marés, o mar, ácida, de matar, calor, a dor

Água de Recife, Tietê, do Guaíba, Além Paraíba. Águas de março, de Fernando de Noronha
Águas de Veneza, São Francisco, do Nilo, Tamisa, Danúbio, Tejo, Sena, Jordão e do Amazonas
Águas de Perito Moreno na Patagônia, de Briksdai, Sorata, Lyman, das bacias de Minas
Águas do Everest, do Kaikoura, das Cataratas do Iguaçu, do Kathmandu, do Niágara

Água oceânica, rumorosa, ruidosa, volumosa, sobre tectônicas placas surdas
Águas transatlânticas, de golfos, diamantíferas, canal do Panamá, triângulo das Bermudas
Água de benção, de batismo, de cura, de cheiro, de axé, de lenda, nos rios, nas chuvas
Água da Terra, sonho pra salvar a espécie, enquanto houver espécie, esperança de água em outros planetas, absurdas?

Água, que parece tanta, né? Parece farta, parece muita
Inverossímil, lenda, fé, parca, pelo ralo sem alma, finda
Insalubre, berra socorro ao insano ser humano, grita
Que o Senhor nos permita, que pra sempre exista
A água linda, água pura, água querida, água viva, água da vida

quarta-feira, 19 de março de 2008

Obrigado (gratidão ao beneplácito de Sonia)* por Marferart



e.com/watch?v=I67Qmye5OYY&feature=user


Obrigado.
Agora, nada pode ser maior que isso
Nada maior que esse legado
Nada melhor que essa flor à Vinicius

Obrigado.
Por esses sons que em minhas veias ardem
Pelo violão batido, entre tênue e sincopado
Pelo milagre e benignitude de Baden

Pelas amplitudes que ardem
E, que em minha veia são sangue com vício
E que os milagres da música se fazem
Possíveis na arte de Baden e Vinicius, mestres no ofício

Só poderia vir de você
Que me conhece como o quê
Mesmo sem me ver, sem de fato me conhecer

Mas que tem um amor que é dor
Mas que tem uma dor que é amor
Por tanto, em meu colo como flor
Olhas em meus olhos com ardor

E confessas à todos os dias e noites
Um amor que é infindo o quanto dura
E que de tão perfeito em dotes
Soa sempre como a obra mais pura


Mulher, que só graça reluz
Obrigado por refletir tanta luz!

quinta-feira, 13 de março de 2008

PARABÉNS À MARIA FERNANDA * Marferart



PORQUE HOJE É DIA DE MARIA
(Fernandes)


Hoje é um dia tão lindo!
Mais lindo dos que foram antes
Tão aguardado e bem-vindo
É o belo dia de Maria Fernandes

Que essa beleza repleta em chamego
Se enfeite em alegrias gentis
E que um magnífico sorriso negro
Reflita seu momento feliz

Parabéns à Maria Fernandes
Por agora, por hoje, por sempre
E que assim como fora antes
A poesia seus olhos sustente

Estou te beijando em sonho
Confesso que meio abusado
Mas como é festa, suponho
Em nada serei notado

Além do mais o que há de mal
Num apertinho virtual
Numa mulher tão fatal
Em data mais que especial


No fim das contas percebo
Com o lábio todo molhado
Que esse baton que recebo
Me torna "o" presenteado

PARABÉNS a todos nós, então
E toda alegria do mundo ao teu belo coração!

Te adoro!!!

quarta-feira, 12 de março de 2008

art mar fer:

BEM AVENTURANÇA (ou, Os Amores Também Morrem)
História de amores rápidos, que se vão nas páginas
dos e-mails e não rendem um beijo sequer, por culpa
do medo.
Ah! Um beijo (sequer...).


BEM AVENTURANÇA!

Ela amava tanto aquela flor
E de tal forma se encantou
Que a tudo transformou
Mas o amor quase virou dor
Quando sofreu o pavor, de ver perder-se a cor
Do jardim que arrimou

E amou tanto aquela vida
De forma divertida, atrevida
Que tornou-se até sofrida
Quando nasceu a ferida, de ficar combalida
Uma existência partida
Uma alma dividida

No início era criança, bela, uma lança
Qual flecha, inconsequente de trança
Corria livre no parque, febre que avança
Esperança serelepe, num repente cansa...
Pesou na balança, o lar, o sólido, a segurança
E aquele amor sem temperança, sem sustância
Que nem deixa herança

A esse só mesmo distância...

SAUDADE DE MIM... * Marferart

art mar fer:

Saudade...
Da vida que se foi como agua entre os dedos
Foi-se com a juventude, com os sonhos, o vigor e um amor infindo
Foi-se com as cores e os cheiros tão mais intensos, com a esperança
Quando penso que poderia ter dobrado à esquerda, ou à direita...
Mas, segui em frente.
Talvez tenha sido a melhor opção...
Jamais saberei de tudo que perdi ou ganhei
Que pena não ter vivido as outras opções vida...
Não ter descido vertiginosamente a ladeira da loucura
Não ter torcido o pé
Não ter amado aquela mulher, daquele próximo
A moça que aconselhei
O momento que abdiquei
Hoje, acho que estou com saudades de mim.

(por influência da lindíssima Marli)

segunda-feira, 10 de março de 2008

PERCURSO DE GUERRA * por Marferart





0caribe.jpg (9404 bytes)







PERCURSO DE GUERRA

Caminho pelo imenso salão em meio à pouca luz
Ouço o som suave de um sax que chora um dó maior meigo
O prédio é envolto em estrutura aluminisada e pele de vidro, o que me permite
Ver toda a cidade de Havana, seus cassinos e mansões à beira mar, os
Automóveis luxuosos, nessa noite fresca de abril, em 1942.

O run forte me rasga a garganta como o sax faz com a noite, em incêndio paulatino,
Entorna pelo lado esquerdo de minha boca e molha minhas vestes, tornando meu traje negro agressivo, sensual e convidativo à mulher de cabelos pretos e olhos profundamente azuis que me plenteia.

E esses benditos charutos de campanha, depois das ostras...
Estranho como estou só, nesse terno riscado elegante e meu chapéu de agave.


Daqui do alto desse avarandado elegante, entregue ao sabor de estrelas
Tremo ao som suave de um violoncelo rígido em um si bemol pleno e alongado
Essa residência centenária cravada no seio sinuoso da rocha, se inclina sobre "il mare" de
Nápole, que tem cheiro de história e mistério rouco, de máfia claustral.
Sob os chapéus negros de feltro enigmático,
homens sérios caminham silenciosos e mulheres misteriosamente ocultas me encantam, no verão 1943

Um vinho sêco, com minha idade, enfeita o naco do gorduroso javali assado com ervas,
sob o queijo de France.


E esses benditos charutos de campanha, depois do chocolate quente...
Estranho como estou só, nesse meu terno negro que copiei de Antonione

Aqui há muita luz à ofuscar minh’alma, que insiste em pisar esse frio mármore secular
Um piano encantador e um bandallion argentino, em lá menor, suavizam meus músculos mais íntimos, como um cognac em Charente
Nesse apartamento encantadoramente simples em Montmartre, arredores de Paris
Observo as ruas e vielas, suas delicadezas intimistas, o cheiro suave de arte, músicas, amor e sonhos
Vejo discretas senhora suspeitas a convidar-me ao ócio da perfumada aventura corpórea,
nesse outono de 1944
Comprei flores primaveris e queijos rústicos de armazém, que agridem o champagne escuro

E esses benditos charutos de campanha, após um sorvete de fruta exótica da África...

Estranho como estou só, descalço, nesse jeans azul como o céu da França

Acordo nessa praia abandonada, estreita, da Urca. Semi-nu, manhoso e com um calor do
qual já havia esquecido.
Ouço um som ao longe. Um violão dolente? Um tamborim vadio?
As matas descem o pequeno morro e deitam-se sobre a praia, invadem o mar, como cabelo de mulher
Assaz bêbado tenho fome de pães amantegados e quentes, com queijo branco de empório

Preciso de uma mulher, no verão louro do Rio, nesse fevereiro de 1945
Tenho pouco dinheiro nos bolsos e não mais os quadros de Matisse, Monet, Goya, Gauguin, Renoir

Os benditos charutos de campanha que o guerrilheiro me deu, acabaram-se, como ele...

É compreensível que eu esteja absolutamente só, nessa molhada calça branca de marinheiro?
É carnaval no Brasil e graças à Deus a GUERRA ACABOU!

Como não matei quase ninguém, acho que vou mergulhar nesse mar incandescente...


TE VÍ

Eu ví uma flor em seus cabelos, luz de paz
Mais que isso, ví uma flor sob seus cabelos
E nessa flor ví luz intensa, luz demais
Num rosto amoroso, de mulher de zelos

Eu ví em seus olhos luz de amor
No semblante a pura cor
De rara flor
Ou
Só a que o sol demonstra ao se por

A MENINA JADE * por Marferart


À Menina Jade

Toda vez que te sentires cinza
Diga à mim pra eu te dizer que és linda
Dizer que a tua cor me entriga

E mais que uma bela amiga
Que um sinal de fica
És sonho que me sonho suplica

Quando te ví
Viajei feliz no que senti
Soltei, falei à tí, não reprimí
Deixei claro que ferví

E agora, não te quero triste ou cinza
Quero aquela doce e lépida menina
Que flui com a disciplina doce da bailarina

Te amo.

sexta-feira, 7 de março de 2008

art mar fer:

CONFISSÃO

Confesso que as tais fotos me tiram do sério
Logo eu, um velho de fim de rua, austero
Logo eu, um velho de janela, discreto em tédio

Confesso que as tais fotos me levam ao cais
Logo eu, um velho que ativa o sangue com seus sais
Logo eu, um velho que permea a veia com fins letais

Confesso que as tais fotos me levam aos céus
Logo eu, um velho que esconde a ruga atrás de véus
Logo eu, um velho que destila sonhos que extrai do fel

Confesso que as tais fotos me fazem voar
Logo eu, um velho que acha tão difícil confessar
Logo eu, um velho que nem sabe mais usar

Portanto,
Confesso que as tais fotos me trazem de volta, ao chão
Justo eu, um velho que não mais aspira por paixão
Justo eu, um velho que perdeu na estrada o coração
Justo eu, decrépito, senil, sem razão
Escravo do meu violão...

(...mas confesso que aquela tal foto me deixa doidão...)

MENINO DE RUA * por Marferart

MENINO (de rua) * por Marferart

O vento morno sopra um calor abafado
A luz, ruídos rudes, tremor parado
Na praia solidão, vazio, temor alado
Na calçada nua me rendo ao pavor, calado
A cola, o álcool, a maconha, a dor, sedado
O cansaço, a fadiga, as visões, o horror, rasgado

Escurece e vem um frio, a lei, o dedo
O carro, a poça, a água e eu cedo
À solidão que ri, de mim, que fedo
Escondo o olho, a fé, o breu, os goles, me rendo, bebo
Num repente a ginga, a manha, o traço, um samba enredo
E de súbito o sonho, um branco, o passo, danço um frevo

Roubar, ganhar, se mandar, correr, escafeder, subir a Figueiredo
Dobrar, ralar pro beco, escuro e negro, fugir, que bom emprego...
Sentar, contar, vibrar,gastar, gritar “PERDEU”, morrer de medo
Comer e rir, escroto, a glote, o goto, cheio, um arroto azedo
Meter, trepar, roncar, sonhar, até amanhã cedo

Chorar tão triste, viste o dedo em riste?
Catar no lixo, podres delícias que altruistes
Por ser de lá. Na certa por isso mesmo, pergunto: vistes?
Os ôme, o pau, a arara, porrada, gosto de alpiste, sentistes?
Mãos ao alto, aos céus, a Deus (Deus?), abra as pernas, pente fino, chek-list
Já não sente um sentimento, só um ódio ateu, como sempre sem limite

O gringo, a lei, a droga, o esguicho, o mijo, a mesa
Fraqueza, o sono, a bronha, a bosta, a fera, a presa
O ódio, o sexo, o ódio, o sexo, o oxo, a reza
O cheiro, o ardor, o ventre, o cio, o gozo, a terra
Dinheiro, a cor, sarjeta, o frio, o “tio”, o ópio, a eira e a beira
A mina, a coxa, a puta, o teco, o sono, a fome, a freira

Dobrar a esquina, descer a Siqueira, na doidera
O sangue, o mundo, ir fundo, a rixa, a bicha, leseira
A seringa, a pinga, o sanitário, tudo comunitário, lixeira
Fechar um olho, abrir o outro, dormir e acordar, dia de feira
Sonhar com pai, com mãe, um ácido,o tráfico, o vício que fuma e cheira

Não acordar, o abate, um baque, um traque, um piripaque
Notícia, de araque, novo baque, em destaque, ao lado de um craque
Front page, rasteje e soletre a fama, o drama, findou no crak
O saque, o amarre, um morra ou mate, o abate
Eu na caixa, a lágrima, a flor, o fraque, a LÁPIDE

Em fim, um FIM!

domingo, 2 de março de 2008

LÁBIO EM FLOR * Marferart

Ah! Como é rubra a flor
A flor é plágio do lábio?
Ou seria a lábio adágio do amor?
Ah! Como é rubro o lábio...

Teria o lábio um rubro tão frágil
Ou seria amável eleger o rubor da flor?
Em ágil sufrágil, o afável esplendor
Enfeite maior de um amor tão sábio?

Sei apenas que o rubor rubro do lábio
e da flor
Fazem estragos no meu pudor
e me expõem a um calor

Ah! Esconda de mim o ardor desse
lábio em flor
Por favor...

AO DESAMOR * Marferart


Desculpe, lamento muito...

Que não me penses contrário
Trabalho assim, sem salário
O que te deixa confusa
Não temais ser tal musa

Um dia eu ví a andaluza
Puxei-lhe o laço da blusa
Me perdoou o ato falho
Pensou ser efeito do orvalho

Percebo agora o sacrário
Lacrados barris de carvalho
Teus olhos com fé de ré
...Antes só ví a mulher!

Longe de mim, desejar
Banhar teus pés, qual o mar
Confuso claustro invadir
E mel com fel te servir

Te adeus tão tristonho
Lamento tocar teus sonhos
Mas te achei tão bonita
Que quis mostrar-te minha vida

Eu, que também amo a música
Acordes, tons, sons. acústica
Me volto a dissonância dos instrumentos
E saio de teus pensamentos

Adeus

NADA QUE IMPULSIONE QUALQUER MOLA * Marferart

Sem querer pensei em volátil
Vidrado, vidente, verossímel, eu varrido
Sem querer pensei em volta
Vulgar, voraz, e ... (desculpe)
Volúpia, com todo o respeito é claro
Se é que me entendes

Todo o mundo sabe que sou obstinadamente
Oblíquo e óbvio
Já nem sei onde enfiar minha cara, confirmo
Sou vago, é só isso...
Ah! Esquecí do vagabo, velho, viscoso
Também vil e volúvel, vagabundo e vadio
Visseral!
Vá... Nada mais me ocorre!

Nada que impulsione qualquer mola
Vou lá pra fora
E não vou mais chorar.

A GAVETA FRIA * Marferart

A Gaveta Fria

É tão grande o frio nessa escuridão
Porque bate surdo meu coração?
Daqui, ouço o choro do filho e da filha
As estórias contadas, coisas da minha trilha
Prantos e risadas entre toda a família

É tão grande o gelo que brota do chão
Porque transpira fria a paralítica mão?
Daqui ouço o grito uníssono dos entes queridos
Comentários gentís, elogios sutís dos amigos
Congraçamentos, lamentos, a dor dos gemidos

É tão grande o inverno no vão do porão
As vozes se calam, se perdem, se vão?
Ao longe rumores se despedem em vida
A mim a morte abraça, como amante querida
Mas meu pavor vem da pele, semi-derretida

É imenso o torpor do derradeiro clarão
O grito mudo, na contra-mão do caixão?
As vozes fugiram, se foram pra rua que urge
E quis gritar, debater-me contra a parede que rude
Mas fecharam-se as portas da dor. O insólito se insurge

Umedece o algodão (no nariz) ante a secreção
O medo e a saudade se irmanam na solidão?
É denso o lamentável odor do corpo inerte
A carne já não resiste ao calor. Pútrida, fede
Tantas flores, que horror! Essa mosca, esse verme...

............................................................................................
Quem lembrará agora do que partiu?
Dormirei tanto pela eternidade afora
Talvez até sonhe com a vida, se de fato existiu

Prevejo um frio enorme nessa gaveta de morte
Mas acho que estou com uma baita sorte

Duro é uma cova rasa em noite de chuva
E essa vizinhança muda, abi (surda)?
QUE DEUS NOS ACUDA!!!

sábado, 1 de março de 2008


LUA E SOL NA FLOR DA IDADE * por Marferart

[sun-moon-big.jpg]

LUA E SOL NA FLOR DA IDADE

Não perca o sopro que empurra, o pique
Que faz com que te dediques
Te identifique, não pare, não fique

Não perca a força do afã
O impulso, a volúpia, o elã, teu talismã
Qual lua e sol, encontre tua alma irmã

Não perca o rumo, o caminho, a pista
Insira teu nome à lista, te vista
E não perca de vista, a garra, o fogo da artista

Mantenha o sonho e a ilusão, no coração
Com pés no chão estenda a mão
Com o peito limpo, pra que te peçam perdão

És paz e fermento, alegria e sofrimento
Divórcio e casamento, “mare e tormento”
Ênfase e lamento, fome e alimento

Tens mocidade, a idade da liberdade
Cheiro de longevidade, és enfeite da vaidade
Lua à noite, no silêncio da cidade

Eu, generosidade, jogo de praticidade
Fogo sem puberdade, jactância senil, alarde
Delírios de Marquês de Sade, querendo tua castidade

Eu, Sol sem beleza, leviandade
Estrela de última grandeza, raios de bondade

O tempo é só maldade
Ah..! Dois anos da tua tenra idade
Só pra matar a saudade...

(para um certo Beija Flor)

BOCA * por |Marferart



BOCA

Boca que de tão bela morde
Boca que por morder beija
Boca que por beijar diz
Boca que por dizer bafia
Boca que por bafiar perfuma
Boca que por perfumar seduz
Boca que por seduzir conquista
Boca que por conquistar chupa
Boca que por chupar lambe
Boca que por lamber goza
Boca que por gozar apaixona
Boca que por apaixonar manda
Boca que por mandar xinga
Boca que por xingar excita
Boca que por excitar range
Boca que por ranger ama
Boca que por amar vibra
Boca que por vibrar esgota
Boca que por esgotar dorme
Boca que por dormir geme

E de tão bela, ao gemer morde, ao morder beija
Ao beijar diz, ao dizer bafia,
Ao bafiar perfuma, ao perfumar seduz,
Ao seduzir conquista, ao conquistar chupa,
Ao chupar lambe, ao lamber goza,
Ao gozar apaixona, ao apaixonar manda
Ao mandar xinga, ao xingar excita,
Ao excitar range, ao ranger ama,
Ao amar vibra, ao vibrar esgota,
Ao esgotar dorme, ao dormir geme,
Ao gemer...