quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

OS FUNERAIS - A flor e o Poeta * Marferart


(A Flor e o Poeta)

Ao longe, ante ao ruído avassalador

Permeando às náiades e tateando marolas

Bálsamo que navega entregue ao torpor

Ventre ao céu, céu que freme por adolar

Seque rumo à baixo a visão ainda púbere

Do corpo tênue, débil, qual frágil amapola

À ermo, imóvel em doçura, tão fúnebre

Entregue e pobre, a flor que definha e estiola

Flui assim o funeral da flor do flamboyant

No enlevo frígido da fina fragrância que aflora

Calma e fria, sem afã

Já soltando a tinta generosa, cor da amora

Sem poesia, noites claras, visões amplas

Andar solto, clamando por toques podres de incestos

Luas cheias, jóias raras de Netuno, incastos, tantas ancas

Golpes torpes, mulher nova, beneplácitos, pobres versos

Mente fútil, flancos dóceis, libertos

Corpo mole, sem volúpia, pronto à cesta

A estabilidade da polpa da tangerina nos gestos

E ele lá, num terno roto, à pensar no que não presta

Fantásticos ruídos repletos de silêncio e dor

O ex- moribundo corpo roliço à sala afeta

Jaz o poeta calmo e frio, sem afã e cor

Já soltando sua tinta mentirosa que deserta

A bravata contemporânea como o estereótipo da sorte

Lançam a flor e o poeta à mesma prisma em flerte

Ambos frágeis e tolos rumam ao escuro da morte

Caminham ao oculto e incerto futuro inerte

Morrem hoje, ao meio-dia, no mesmo dia

A corda e a caçamba, o abade a abadia

Morrem hoje, ao meio-dia, no mesmo dia

a fantasia e a folia, a ponte e a via, o sorriso e quem sorria

Bem mais bela, é claro, a nossa flor

Que o pobre diabo do poeta que já exala odor

E entorna ao chão da sala seu tumor de horror

Dela, um poema de amor

Dele, um olhar de pavor

Morreram o Poeta e a Flor

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