(A Flor e o Poeta)
Ao longe, ante ao ruído avassalador
Permeando às náiades e tateando marolas
Bálsamo que navega entregue ao torpor
Ventre ao céu, céu que freme por adolar
Seque rumo à baixo a visão ainda púbere
Do corpo tênue, débil, qual frágil amapola
À ermo, imóvel em doçura, tão fúnebre
Entregue e pobre, a flor que definha e estiola
Flui assim o funeral da flor do flamboyant
No enlevo frígido da fina fragrância que aflora
Calma e fria, sem afã
Já soltando a tinta generosa, cor da amora
Sem poesia, noites claras, visões amplas
Andar solto, clamando por toques podres de incestos
Luas cheias, jóias raras de Netuno, incastos, tantas ancas
Golpes torpes, mulher nova, beneplácitos, pobres versos
Mente fútil, flancos dóceis, libertos
Corpo mole, sem volúpia, pronto à cesta
A estabilidade da polpa da tangerina nos gestos
E ele lá, num terno roto, à pensar no que não presta
Fantásticos ruídos repletos de silêncio e dor
O ex- moribundo corpo roliço à sala afeta
Jaz o poeta calmo e frio, sem afã e cor
Já soltando sua tinta mentirosa que deserta
A bravata contemporânea como o estereótipo da sorte
Lançam a flor e o poeta à mesma prisma em flerte
Ambos frágeis e tolos rumam ao escuro da morte
Caminham ao oculto e incerto futuro inerte
Morrem hoje, ao meio-dia, no mesmo dia
A corda e a caçamba, o abade a abadia
Morrem hoje, ao meio-dia, no mesmo dia
a fantasia e a folia, a ponte e a via, o sorriso e quem sorria
Bem mais bela, é claro, a nossa flor
Que o pobre diabo do poeta que já exala odor
E entorna ao chão da sala seu tumor de horror
Dela, um poema de amor
Dele, um olhar de pavor
Morreram o Poeta e a Flor
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