Eu quis ser outra pessoa
Acordar e ignorar a vida
A ave plena que voa
O tom café da margarida
A gotícula de chuva
O verde que invade o mar
A boca da baía, em curva
Meu cão à me olhar
Eu quis fazer diferente
Não ver meus papéis, minha música
Me desfazer num repente
Da vida lúdica, rústica
O café quente, a canção
O corpo sem coração
O amor no meu violão
Pisar na areia e pensar
Molhar a mão nesse mar
Deitar na areia e sonhar
Eu quis ser outra pessoa, hoje
Ser um filete de água
Ser um bichinho que foge
Lágrima fria de magoa
Quis me esconder dessa flor
Quis esquecer que existia
Tamanha a força da dor
Que me rasgava e invadia
Eu quis fazer de outro jeito
Ser novo homem que insurge
A sublevar o seu peito
Qual fera forte que ruge
Mas logo vi que não via
Se um bom motivo havia
Pra tudo que eu sentia
Sentir um grande vazio
Petrificar no bafio
Da solidão, desse frio?
Por não saber ser sozinho
E sentir medo do fim
Andarilhei um caminho
De volta à dentro de mim
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