sexta-feira, 7 de março de 2008

MENINO DE RUA * por Marferart

MENINO (de rua) * por Marferart

O vento morno sopra um calor abafado
A luz, ruídos rudes, tremor parado
Na praia solidão, vazio, temor alado
Na calçada nua me rendo ao pavor, calado
A cola, o álcool, a maconha, a dor, sedado
O cansaço, a fadiga, as visões, o horror, rasgado

Escurece e vem um frio, a lei, o dedo
O carro, a poça, a água e eu cedo
À solidão que ri, de mim, que fedo
Escondo o olho, a fé, o breu, os goles, me rendo, bebo
Num repente a ginga, a manha, o traço, um samba enredo
E de súbito o sonho, um branco, o passo, danço um frevo

Roubar, ganhar, se mandar, correr, escafeder, subir a Figueiredo
Dobrar, ralar pro beco, escuro e negro, fugir, que bom emprego...
Sentar, contar, vibrar,gastar, gritar “PERDEU”, morrer de medo
Comer e rir, escroto, a glote, o goto, cheio, um arroto azedo
Meter, trepar, roncar, sonhar, até amanhã cedo

Chorar tão triste, viste o dedo em riste?
Catar no lixo, podres delícias que altruistes
Por ser de lá. Na certa por isso mesmo, pergunto: vistes?
Os ôme, o pau, a arara, porrada, gosto de alpiste, sentistes?
Mãos ao alto, aos céus, a Deus (Deus?), abra as pernas, pente fino, chek-list
Já não sente um sentimento, só um ódio ateu, como sempre sem limite

O gringo, a lei, a droga, o esguicho, o mijo, a mesa
Fraqueza, o sono, a bronha, a bosta, a fera, a presa
O ódio, o sexo, o ódio, o sexo, o oxo, a reza
O cheiro, o ardor, o ventre, o cio, o gozo, a terra
Dinheiro, a cor, sarjeta, o frio, o “tio”, o ópio, a eira e a beira
A mina, a coxa, a puta, o teco, o sono, a fome, a freira

Dobrar a esquina, descer a Siqueira, na doidera
O sangue, o mundo, ir fundo, a rixa, a bicha, leseira
A seringa, a pinga, o sanitário, tudo comunitário, lixeira
Fechar um olho, abrir o outro, dormir e acordar, dia de feira
Sonhar com pai, com mãe, um ácido,o tráfico, o vício que fuma e cheira

Não acordar, o abate, um baque, um traque, um piripaque
Notícia, de araque, novo baque, em destaque, ao lado de um craque
Front page, rasteje e soletre a fama, o drama, findou no crak
O saque, o amarre, um morra ou mate, o abate
Eu na caixa, a lágrima, a flor, o fraque, a LÁPIDE

Em fim, um FIM!

Nenhum comentário: