A Gaveta Fria
É tão grande o frio nessa escuridão
Porque bate surdo meu coração?
Daqui, ouço o choro do filho e da filha
As estórias contadas, coisas da minha trilha
Prantos e risadas entre toda a família
É tão grande o gelo que brota do chão
Porque transpira fria a paralítica mão?
Daqui ouço o grito uníssono dos entes queridos
Comentários gentís, elogios sutís dos amigos
Congraçamentos, lamentos, a dor dos gemidos
É tão grande o inverno no vão do porão
As vozes se calam, se perdem, se vão?
Ao longe rumores se despedem em vida
A mim a morte abraça, como amante querida
Mas meu pavor vem da pele, semi-derretida
É imenso o torpor do derradeiro clarão
O grito mudo, na contra-mão do caixão?
As vozes fugiram, se foram pra rua que urge
E quis gritar, debater-me contra a parede que rude
Mas fecharam-se as portas da dor. O insólito se insurge
Umedece o algodão (no nariz) ante a secreção
O medo e a saudade se irmanam na solidão?
É denso o lamentável odor do corpo inerte
A carne já não resiste ao calor. Pútrida, fede
Tantas flores, que horror! Essa mosca, esse verme...
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Quem lembrará agora do que partiu?
Dormirei tanto pela eternidade afora
Talvez até sonhe com a vida, se de fato existiu
Prevejo um frio enorme nessa gaveta de morte
Mas acho que estou com uma baita sorte
Duro é uma cova rasa em noite de chuva
E essa vizinhança muda, abi (surda)?
QUE DEUS NOS ACUDA!!!
domingo, 2 de março de 2008
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